terça-feira, 13 de julho de 2010

Mais do Mesmo


Em uma tarde de sábado, após chegar do supermercado com sua avó paterna, a garotinha fez seu ritual. Pediu a chave do carro do seu tio para ficar lá dentro sozinha escutando música.

Fuçando nos CDS que havia no carro, achou um que chamou atenção pelo nome, e sem muita empolgação colocou o CD para escutar. De supetão começa: “Tire suas mãos de mim, eu não pertenço a você...”. Embalado no refrão com: “Será só imaginação, será que nada vai acontecer, será que é tudo isso em vão...” Neste momento o coração da garota deu uma acelerada, pois passou um filme na sua cabeça. De quando era criança e ia com seus pais e irmã em período de férias passear pela avenida da cidade. Que sua Mãe comprava roupas para ela e a irmã participar dos Festivais de dança de verão e tudo mais.

As faixas seguintes passaram despercebidas, “Ainda é Cedo” e “Geração Coca-Cola”, mas quando começa a união dos acordes Mi e Lá seguindo a introdução: “Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração, e quem irá dizer que não existe razão...” Aquela garotinha de apenas 11 anos, se prende a música de uma forma que nunca acontecera. A medida que o Renato relatava a história de Eduardo e Mônica, a garota se divertia com tantas descrições irreverentes.

Passando novamente as faixas, pára na música dez. E não consegue pensar nem fazer mais nada. Sentindo-se totalmente entregue. Seus ouvidos só se concentravam na guitarra. Seu cérebro à letra. Ficou atônita, atordoada com a obra-prima. Escutou incansavelmente mais de dez vezes. Emocionou-se. Riu e chorou.


Ainda atordoada com tudo aquilo, leva seu xeque-mate quando chega na faixa 12 e escuta o Russo declarar: “De tarde quero descansar, chegar até a praia e ver, se o vento ainda está forte vai ser bom subir nas pedras sei...”. A partir daí não teve como negar. Foi conquistada. Como certeza de todo o encantamento, a garota só conseguia chorar, chorar e rir. Um choro da alma, o choro de descoberta, o choro de dor que sentia e não sabia o porquê. Mas o tempo lhe diria.


O tempo passou, a paixão pela banda Legião Urbana só fez-se aumentar. Mais músicas, mais relatos, mais descobertas. Todas às vezes que a garota escutava: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã...” Seu estômago doía (mesma sensação de quando se ama) e não entendia o porquê. Veio entender a dimensão de tudo aquilo, quando sua Mãe dá a luz, mais uma garota para completar um trio na família, e após 28 dias a menina recém-nascida dá seu último suspiro.


Depois da perda entendeu como ninguém tudo o que o Renato quis dizer com a letra. Entendeu o que é o fator tempo. O que é amar. E uma vez que aprendeu a lição corretamente, nunca mais esqueceu.

Essa menina se chama Mirela Renata das Neves e completa amanhã 20 anos de idade. Foi assim que ela descobriu o que era o rock, em todas as suas dimensões.


ps¹: Se por acaso alguém ler este texto e não conhecer Legião Urbana, eu só posso dizer, no mínimo, que crie vergonha na cara e escute pelo menos uma música.

ps²: A descrição das músicas citadas no texto, é do CD "Mais do Mesmo". Eu nem preciso dizer o que está rolando no som né?!

ps³: Espero que muitos que me conhecem e não entendem porque não enjôou de "Pais e Filhos" a partir do texto entenda. Pois poucas vezes toquei no assunto, e pretendo continuar assim.


Minha Salva ao Dia Mundial do Rock!!!!

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